Oly Jr.
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segunda-feira, 6 de julho de 2009


"Meus Heróis Locais I"

Bom, tudo começou quando eu ouvia por tabela, um LP da novela Saramandaia, que foi exibida na Rede Globo em 1976. Como eu nasci em 1977, obviamente não acompanhei na íntegra a tal novela global, de muito sucesso por sinal... só sei que alguns anos depois, lá pelo iníco da década de 80, eu sempre escutava essa música lá em casa. Minha mãe, que era chegada numa novela, quando sobrava um troco, comprava os LP's ou fitas K7's das trilhas sonoras das novelas. E isso ficava lá na sala, a disposição de curiosos que nem eu... piazito medonho tentando descobrir as coisas na marra...

E quando eu era piá, eu tinha um certo medo de uma música que rolava de vez em quando no rádio e que todo mundo cantarolava justamente a parte que eu mais temia... " o vampiro, o lobisomem, o saci-pererê..." e que tinha nesse LP, da trilha sonora de Saramandaia. A tal música?? "Canção da Meia-Noite"!!
Creio até hoje que muita gurizada tremia os cambitos quando escutava essa música.
"Canção da Meia-Noite" é uma música do conjunto musical "Almôndegas", e que foi lançada num LP chamado "Aqui", segundo disco do conjunto que estourou nacionalmente (coisa rara para artistas do sul do país) e que tinha como integrantes mais famosos, Kleiton & Kledir, que mais tarde formaram uma dupla musical de respeito e que continuou o legado do Almôndegas no circuito nacional.

Bem, o fato é que essa música (Canção da Meia-Noite), composta pelo grande compositor e guitarrista Zé Flávio, me despertou para eu adquirir um certo conhecimento e pesquisar a respeito de artistas sulistas.
Na medida em que eu me interessava mais sobre música, crescia também o orgulho gaúcho, não o bairrismo, mas o orgulho mesmo. Cresci num ambiente em que a cultura local era tão valorizada quanto a internacional e a nacional. E quando eu me emocionava com alguma canção, no fundo eu sabia que emoção é emoção... independente da onde vem...
Se eu era capaz de sentir algo ouvindo Bob Dylan, eu também comparava o tipo de sentimento que me atingia ouvindo Nei Lisboa... era normal eu cantar e dançar ao som de Beatles, Rolling Stones, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana... e da mesma maneira azucrinar ao som de TNT, Cascavelletes, Garotos da Rua, Engenheiros do Hawaii...
Na minha cabeça, Julio Reny, Bebeto Alves, Kleiton & Kledir, Vitor Ramil, Almôndegas, Nelson Coelho de Castro... não perdiam em nada, em termos de concepção e arte, para Neil Young, Lou Reed, Caetano Veloso, Gilberto Gil... claro que as vezes eu percebia diferenças tecnológicas e sonoros, mas em termos de valor criativo e emocional, tudo era igual... quando uma música toca o coração e instiga a tua mente, não importa da onde ela vem... ponto pra quem a compôs, cantou e tocou...

A verdade é quando eu comecei a me dedicar à música, a vivê-la... em algum momento da minha vida eu li em algum lugar um conceito que até hoje me faz refletir à respeito do processo criativo, mas também até hoje eu não consigo me lembrar em que circustância eu li, não lembro exatamente as palavras que foram usadas... quem falou, quem publicou, onde, quando... resumindo, era mais ou menos assim:

"Cante a sua região, sua vivência, o que te foi passado ao longo dos anos... misture com seus sonhos... tente sentir a atmosfera artística de onde você se encontra... traduza o momento social onde você está inserido... bote pra fora suas angústias, seus medos, seus desejos... e quando ao final de cada canção, você se emocionar e sentir uma satisfação interior, é porque você conseguiu por si só, criar um processo artístico de valor internacional e insubstituível."

É por aí...

Até...
Foto: Capa do Livro "Som do Sul" de Henrique Mann.

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